terça-feira, 23 de novembro de 2010

Relatório da Intervenção artístico_Pedagógica


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Faculdade de Artes Visuais
Licenciatura em Artes Visuais
Disciplina: Estágio Supervisionado III
Profª Orientadora: Flávia Cirqueira.
                                             Acadêmica: Reni Maria Jacob                                   
Pólo: Catalão Goiás
                                                                            Data: 23 /11/2010

Relatório da Intervenção Artístico_Pedagógica

As reflexões a cerca do processo de busca e escolha da porta de entrada, diante da etnografia realizada, na disciplina de Estágio Supervisionado III, possibilitou a elaboração da interface do Projeto solicitado na disciplina de Ateliês Integrados. Embora tenha sido um caminho bem trilhado, as lembranças acumuladas bastante diversas, impedem a fidelidade apenas memorial. Portanto, os relatórios e às participações nos fóruns com certeza  fortalecem as ações nas duas disciplinas.
Embora mi8nha escolha do local de estágio fosse um público conhecido, no instante em que me propus ao “estranhamento do familiar”, percebi muitas opções diferenciadas de imersão com os alunos da casa da criança do projeto: Esporte, Lazer e Cultura. Comecei a delinear o planejamento pedagógico a partir da concessão dos orientadores das disciplinas favorável a união do Tele centro comunitário, porta de entrada da colega Tabita Ganda e a casa da criança. A discussão ganhou novos parâmetros e ao visitarmos juntas as coordenações dos dois locais o processo foi acontecendo com bastante entusiasmo.
A princípio nos foi recomendado pela coordenação da casa da criança trabalhar com a cultura brasi8leira. Tema atual do projeto. Mas, ao discutirmos nos fóruns da s disciplinas fomos orientadas a focar nossa imersão na cidade. Iniciamos a renegociação e definimos dois aspectos: vaidade e religião. O assunto foi abordado nas entrevistas de etnografia e recordamos o fato. Quanto o embasamento teórico, a admiração e o respeito pela teoria d3e Ana Mae Barbosa, tornou-se fator unânime desde que Tabita e eu tivemos o prazer de conhecê-la e discutir pessoalmente o seu método da Proposta triangular. Desta forma, o ver, o fazer e o contextualizar, já eram parte integrante de qualquer planejamento artístico que fôssemos abordar na cultura de Ouvidor.
Após um dia inteiro de pesquisas e discussões decidimos que “o infográfico” seria o método artístico utilizado. A partir desta decisão o próximo passo foi planejar como iríamos transmitir o conceito, a teoria e a prática àquelas crianças.
Marly, a funcionária do Telecentro Comunitário entrou de férias e nós iniciamos pela casa da criança. Outra funcionária nos forneceu o suporte técnico que viria do local. Data show e not book.   Organizamos um Power Point e didaticamente  descrevemos em detalhes o percurso feito por nós até encontrarmos os dois locais. Explicamos quem éramos o que estávamos fazendo ali, e por que. Apresentamos nossos orientadores e suas propostas e todos os presentes tomaram conhecimento da missão que nos aguardava. Terminada exposição sugerimos que os alunos fossem enumerando os nomes dos salões de beleza e das instituições religiosas existentes em Ouvidor.
Para completar  marcamos e combinamos como seria nosso próximo encontro. O que seria perguntado em cada visita e como deveria ser o traje e o comportamento de todos nesta pesquisa. Neste primeiro contato, todas as crianças e adultos da casa da criança participaram para depois optarem espontaneamente em fazer ou não parte da equipe que iria a campo.
No dia e hora marcados, houve um imprevisto. O tempo de chuva impediu que saíssemos todos. Fomos de carro e como muitas crianças estavam afoitas por me acompanhar, pedi a Lilian, minha parceira que nos acompanhasse para garantir a segurança das crianças que ficassem a espera dos outros que viriam na segunda viagem de carro. Fomos primeiro na Igreja Católica e la fomos recebidos pelo educado frei Wandel. Novato na cidade ele pediu um tempo para completar as respostas  históricas, mas esclareceu muita curiosidade dos alunos especialmente quem não era católico e estava ali pela primeira vez. Muito atencioso ele fez um passeio pelas dependências da igreja e salão paroquial explicando que havia um livro chamado “tombo” e as crianças ficaram curiosas com o nome. Descobriram que o “tombo” era uma espécie de registro dos fatos mais relevantes acontecidos na paróquia. A afinidade foi tão perfeita que as crianças até puderam ficar sobre os seus cuidados enquanto eu conduzia a Lilian na primeira viagem ao salão agendado para a entrevista.  Quando cheguei com a segunda turma da viagem a entrevista com a Carol já estava adiantada.  Pois já haviam sido instruídos para tal. Inclusive designaram um representante do grupo para cada função.  Enquanto um entrevistava, outro anotava, ou  tirava foto,  filmava, na chegada explicava porque estávamos ali outro agradecia no final. Assim todos participavam.
As crianças anotaram que no salão da Karol eram atendidas cerca de 40 a 40 pessoas por semana e que ela tinha experiência de 14 anos e o salão em Ouvidor já fazia seus cinco anos de funcionamento. Ela declarou atender todas as classes sociais e que ficou perplexa coma vaidade da mulher ouvidorense. Comparou com Catalão sua cidade de origem e início de sua profissão.  Seu salão situado na Rua Elizeu da Silva nº 260 é procurado especialmente para as químicas.  E sua freguesia não tem classe social. “Todas as mulheres, sem exceção, procura um meio de encontrar recursos financeiros para cuidar da aparência”, “se elas forem a uma simples reunião  ou até ali na esquina, elas se produzem... estranhei muito quando mudei para Ouvidor e fiquei preocupada com a minha pouca vaidade pessoal...”.
A seguir fizemos o mesmo processo das duas viagens desta vez confiando os alunos que iriam depois à proprietária Maria Carolina e nos dirigimos ao salão Avivar, a moça estava ocupada, mas garantiu que não iríamos atrapalhar. Voltei em busca dos outros e a entrevista iniciou sem minha presença.  Cristiane respondeu   para a aluna Ana Luiza que sua experiência era de 13 anos, mas seu salão naquele local tinha apenas 4 anos.  Declarou atender de 50 a 60 pessoas na semana e que geralmente suas clientes são de todas as classes sociais e a vaidade é igual em todas elas. Inclusive os serviços independentes do preço são procurados por todas. Sendo Hidratação, corte escovação ( o mais freqüente de todos).  Cris como é chamada a proprietária do salão ficou feliz por perceber o quanto as crianças estavam cientes do que faziam e agradeceu muito poder participar com a gente nesta pesquisa. Posou para fotos e a animação foi geral no seu colorido salão.
Agendamos par a próxima quarta feira, vários locais e combinamos com as crianças para le3varem mais equipamentos, se eles pudessem, pois o interesse de uso destes recursos estava ilimitado e às vezes provocando até discussões na rua. Todos queriam experimentar de tudo naquele novo universo de aprendizagem.
No segundo dia de pesquisa de campo fomos a pé e com muito mais participantes.  Fernanda, a coordenadora pedagógica da casa da criança, Laís educadora mirim, professora Lilian, do Tele centro, Tabita e eu fomos com as crianças divididas em duas turmas. A primeira visita foi no salão “Estampa do Rosto” e a entrevista foi feita pela aluna Adrielly e anotada por Ana Maria. Nilda Simone Pinto da Silva é a dona do local. Entusiasmou-se contando sobre os cursos que faz e como Ouvidor é visto pelas colegas de outras cidades. Riu muito e disse “aqui em Ouvidor a cultura é arrumar no salão para ir para a faculdade... o povo de Ouvidor é muito chique, todos gostam de cuidar da aparência tem onze anos que tenho salão e nunca fiquei sem serviço... no geral pagam direitinho”.   O ponto forte da Nilda é reflexo, tintura, corte e escova. E passam cerca de 40 fregueses por semana no salão Estampa do Rosto.
No salão da Almelissa situado na Rua Professor Carlos numero 48 ela trabalha há 13 anos. Quem entrevistou foi a Karoline Hellen conduzidas pela professora Lilian.   Amélia disse a ela que atende de 180 a duzentas pessoas por mês.  E que, cada freguesa passa pelo menos uma vez na semana no salão. “minhas freguesas são muito vaidosas e arrumam as unhas e o cabelo independente se vão sair ou não... tive uma em especial que não lavava nunca a cabeça em casa era só aqui...”  As fotos e os registros da entrevista mostram as crianças bem a vontade ao lado de pôsteres e decoração do salão.
A visita na Igreja Assembléia de Deus Madureira rendeu bem mais do que as expectativas. O pastor Raimundo encontrou em nossas meio, crianças de sua doutrina e posaram e contaram muito do perfil da instituição.  A grande surpresa foi o liberalismo do dirigente. A assembléia de Deus já fora uma das igrejas mais severas em proibições e ele respondeu que a primeira coisa que fez foi abrir as portas de seu culto, pois antes dele havia dias em que oravam a portas fechadas. Declarou ser favorável a vaidade e o cuidado com o corpo sobre a alegação de que Deus quer o melhor de nós e uma pessoa bonita e bem cuidada é o mínimo que podemos fazer diante da bondade Dele com o seu povo.  “... nem todos os membros deste templo concordam com esta visão e existem muitos fiéis que não admitem o uso d adornos ou outros”... “ “ quero que vocês me repassem a entrevista e os registros fotográficos para ser colocados no site da igreja que estamos construindo...”
Ir à comunidade Batista foi gratificante. Pastor Rafael muito prestativo ensinou-nos a valorizar a adoração cantada. Seu público quase que essencialmente jovens, praticam o louvor cantado na maioria do tempo de culto. “temos mais ou menos 30 membros e praticamos movimentos educativos de caridade”.
Na Igreja Cristã Evangélica as crianças visitaram, tiraram fotos e Tabita e eu fizemos a entrevista com o pastor Aparecido em outro momento. Segunda mais antiga da cidade a instituição conta com 60 fiéis mais ou menos e o ponto forte segundo o pastor é a assistência social.
O centro espírita Amor Eterno não foi visitado.  Foi realizada a pesquisa com a sua presidente, inclusive sua filha fazia parte de nossa equipe. Aurita nos disse que o ponto forte do centro é assistência social inclusive com sopa aos domingos e que a evangelização é marcante e insistente. Frequentam o templo cerca de 60 pessoas.
Após uma parada para o lanche, Tabita, eu e algumas crianças nos dirigimos a Igreja de Deus no Brasil. Uma das crianças que nos acompanhava faz parte dos membros da igreja e pediu pra  anotar as respostas do pastor Carlos Ely. “ o ponto forte de minha igreja é o fortalecimento das famílias e a catequese das crianças... temos cerca de 30 membros assíduos...”
A mais antiga religião de Ouvidor é a católica com cerca de mais de três mil batizados e 600 dizimistas. Em espaço físico ela e a assembléia de Deus Madureira despontam. O catolicismo possui uma rígida hierarquia e funciona com a divisão democrática do poder interno através das pastorais. Pastoral do dízimo, da família, do batismo, terço das mulheres, terço dos homens, carismática, pastoral da criança... Enfim,  cada segmento é composto por pessoas da comunidade que prestam serviços religiosos em detrimento ao bom funcionamento dos fiéis.
Mediante nossos estudos  pudemos constatar que a vaidade impera no cotidiano da maioria das pessoas de Ouvidor e que às vezes é posta em um nível perigoso, já que custa caro ser bem cuidado. Segundo o depoimento das profissionais d cidade, muitos se sacrificam financeiramente para o cultivo cultural da beleza física. Par uma população de menos de cinco mil habitantes estão a serviço da aparência 23 salões de portas abertas.
Na esfera religiosa 13 instituições com denominações diferentes velam pela espiritualidade dos fiéis e contribuem cada uma a seu modo para a busca da paz e da boa conduta da população da cidade e do município de Ouvidor.                                                                                                                                                                                                                                                             Ao nos apropriarmos destas informações mergulhando na história e no presente de nosso povo, percebendo a influência da vaidade e da religião no perfil das pessoas, espera-se que o estudo abordado neste projeto possa                                                              contribuir para que os alunos da casa da criança entendam-se como sujeitos do processo histórico.  Sintam que ao mesmo tempo em que fazem a história, são determinados por ela.  Devem perceber que para interferir e transformar o presente é necessário conhecer e entender o passado. A compreensão da história lhes  possibilitará uma ação transformadora e consciente para lhes darem  subsídios para repensar as relações sociais existentes nas instituições, tanto na motivação religiosa quanto na vaidade.  O lugar em que cada uma ocupa na vida das pessoas e o limite aceitável para uma vida sã.
A culminância dos estudos resultou na arte infográfica construída pela união e esforços conjuntos que ao situar na sua leitura e interpretação crítica necessária visualizou pontos relevantes a serem destacados na arte. Relembrando que infográfico é a mistura de INFO de informação e GRÁFICO de desenho, imagem, representação visual. Ou seja, é um desenho ou imagem que explica e informa.  O infográfico explica visualmente a mensagem a que se propõe expor.
A arte infográfica teve como palco o Tele centro Comunitário com a participação de dez crianças, Lilian, Valéria(SME), Tabita e eu. Levamos o mapa geográfico de Ouvidor impresso e as crianças selecionaram através de consulta aos folhetos de anotação os dados e endereços  que iriam compor nossa arte final. As imagens foram trabalhadas em desenhos manuais no computador todos quiseram ter a experiência e momentos de descontração e trabalho preencheu uma tarde inteira de dedicação.  Visualizadas as imagens e filmes feitos ao longo de nossa pesquisa decidimos que usaríamos as fotos e não os desenhos das crianças para ilustrar a infográfica, pois elas retratariam com mais fidelidade a representação desejada.
A avaliação também foi conjunta e todos puseram a dar seu parecer.
Foi servido um lanche e após o intervalo as crianças verbalizaram as suas  experiências e relataram  satisfação e o conhecimento adquirido neste processo de pesquisa. Puseram prontos a se ingressar de novo, em outras oportunidades futuras.
Tabita, os outros adultos e eu, também achamos que apesar do pouco tempo as grandes maiorias dos objetivos foram alcançadas e a experiência foi válida inclusive para nós. Poder rever a rotina de uma cidade pequena através do depoimento de outros é educativo e nos condiciona a respeitar a diversidade, seja ela religiosa cultural ou até mesmo racial.  Possibilita-nos o enfrentamento do conhecido sob uma nova visão e descobertas de relevantes aspectos imperceptíveis diante da mesmice que nos invade diante da rotina estabelecida por todos nós. Aprendemos que o estranhamento do familiar é o ponto de partida para questionamentos inteligentes e pesquisas profundas.

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